sexta-feira, 29 de março de 2019

Coco-do-Mar – A Maior Semente do Reino Vegetal na Biblioteca Seomara



No início do século XVI, os portugueses trouxeram, do Oriente, especiarias e outros produtos exóticos que maravilharam naturalistas e monarcas renascentistas, interessados em preciosidades oriundas de reinos longínquos.


As sementes do coqueiro-do-mar foram muito desejadas, devido à forma das sementes, à sua origem enigmática e às suas alegadas virtudes medicinais. Eram recolhidas nas praias das Ilhas Maldivas e da Índia e, por vezes, também se encontravam nas águas do Índico, longe de qualquer terra conhecida - esta é a origem do seu nome comum (coco-do-mar).


A primeira referência ao coco-do-mar encontra-se no relato da viagem de Fernão de Magalhães (c.1480-1521), da autoria de António Pigafera (c.1491-1534) e publicado em 1526. Garcia de Orta (c.1501-1568) refer o coco-do-mar nos Colóquios dos Simples (1563) e Camões (c.1524-1580) nos Lusíadas (1572).


Em 1768, uma expedição comandada pelo francês Nicolas Marion Dufresne (1724-1772) desembarcou nas Ilhas Seychelles, para obter madeira, e penetrou na densa floresta, onde descobriu, no solo, centenas de cocos-do-mar.


A espécie que produz o coco-do-mar (Lodoicea maldivica) é uma das seis palmeiras endémicas das Seychelles. As sementes, em geral, com comprimento superior a 50 cm e peso de 20 kg, não flutuam, o que as impediu se dispersaram para outras regiões. O coqueiro atinge os 30 metros de altura e pertence a uma espécie dióica - espécimes com flores femininas (pistiladas) e outros com flores masculinas (estaminadas). A inflorescência masculina, com o tamanho e a espessura de um braço humano, tem pequenas flores em forma de estrela e exala uma fragrância melífera. As flores femininas agrupam-se em inflorescências com cinco a treze flores e cada uma contêm três óvulos. Em geral, apenas se desenvolve um óvulo (semente) por flor, embora, ocasionalmente se possam encontrar frutos com duas ou três sementes. Os coqueiros-do-mar florescem, pela primeira vez, após cerca de 25 anos de desenvolvimento vegetativo e a maturação da semente prolonga-se por sete anos.


Estima-se que a palmeira mais antiga tenha 800 anos, a qual vive conjuntamente com cerca de 4000 coqueiros-do-mar no Vallée de Mai (Ilha de Praslin) - reserva inscrita, desde 1983, na lista de Património da Humanidade (UNESCO).




Figura 1. Pé feminino do cocoqueiro da espécie Lodoicea maldivica.





Figura 2. Pé mascúlino do cocoqueiro da espécie Lodoicea maldivica.












Figura 3. Pé feminino do cocoqueiro da espécie Lodoicea maldivica.












Figura 4. Sementes e frutos do cocoqueiro da espécie Lodoicea maldivica.




Figura 5. Duas sementes do cocoqueiro da espécie Lodoicea maldivica.




Figura 6. Semente do cocoqueiro da espécie Lodoicea maldivica.











Figura 7. Semente do cocoqueiro da espécie Lodoicea maldivica.








Figura 8. Semente , parcialmente polida, do cocoqueiro da espécie Lodoicea maldivica.





Figura 9. Metade de uma semente,do cocoqueiro da espécie Lodoicea maldivica, esculpida e utilizada como recipiente.






Décadas da Ásia de João de Barros (c.1496-1570)
“(...) em algumas partes debaixo da agua salgada nasce outro genero dellas [árvores], as quaes dam hum pomo maior que o coco; e tem experiencia que a segunda casca delle he muito mais efficaz contra a peçonha, que a pedra Bezoar, que vem daquellas partes Orientaes, que se cria no bucho de huma alimaria [animal], a que os Parseos chamam Pazon (…)”

BARROS, J., 1777, Da Ásia, Régia Officina Typografica, Lisboa (Década III, Livro III, Capítulo VIII).




Garcia d’Orta não dá muito crédito às alegadas propriedades curativas desta semente: “(...) Não, nem ouvi falar lá delle; por onde lhe não dou tanto credito; e, porque não se offreceo caso onde curasse com elle alguma pessoa, somente ouvi dizer a muytas pessoas, dinas de fé, ser muyto bom pera a peçonha (...) E seyvos dizer que muytos homens bebem por estes coquos, e dizem que se achão muyto bem; mas não sey se o faz a emaginaçam: e por esta razam não quis afirmar ser bom nem máo, nem vos direy cousa alguma ser boa, senão sendo testemunha de vista ou [sabendo-o por] pesoas dinas de fé.
ORTA, G., 1987, Colóquios dos Simples e Drogas da Índia, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa (edição fac-simile dirigida e anotada pelo Conde de Ficalho, Academia Real das Ciências de Lisboa/Imprensa Nacional, Lisboa, 1891-1895).
(Colóquio Décimo Sexto - Do Coquo. Pág.: 240-241)”.




Lusíadas (1572) Luís Vaz de Camões
Nas ilhas de Maldiva nace a pranta,
No profundo das agoas soberana,
Cujo pomo contra o veneno urgente
He tido por Antidoto excelente.
CAMÕES, L., 1572 (pág. 193), Os Lusíadas, [Em Casa de] Antonio Gõçaluez, Lisboa

10 comentários:


  1. A forma da maior semente do reino vegetal causou em nós grande admiração. Parece parte de um corpo humano o que nos levou a múltiplas exclamações, com grande pendor para o embaraço. Contudo, é uma semente extraordinária, tão grande e pesada! Por outro lado, atendendo ao papel dos navegadores portugueses na descoberta e disseminação do Coco – do – mar fez-nos recordar como os nossos antepassados contribuíram de modo tão decisivo para o mundo que hoje temos.
    Turma S55 do 10.º ano do Curso de Técnico de Saúde.

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  2. Respostas
    1. tema muito interessante sobre os cocos.
      Daniel Alexandre da turma S57 do 10.º ano do curso de Animação Turística.

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  3. eu acho que estes sementes do reino vegetal sao grande admiração parte do corpo o que nos levou múltiplas .
    10 ano s57 curso técnico animação de turística .

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  4. Gostei muito desta semente. E de saber que também Camões escreveu sobre a mesma.
    Aluna 10.º ano do Curso Assistente Administrativo

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  5. Adorei imenso esta árvore
    10 ano Assente Administrativo

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  6. A espécie é muito especial e a preservação da mesma deve ser empenhada e responsável.
    Alexandre, 12.º ano

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  7. A semente coco-do-mar parece mesmo como uma parte do nosso corpo é espetacular como a natureza pode fazer coisas como estas, esta espécie de coco é especial porque é rara e esta em vias de extinção.

    Aluna do curso auxiliar de saúde.

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  8. Trata-se de uma semente muito interessante. Gostei muito de saber da sua existência e das descrições da semente nos Lusíadas.
    Aluna do 10.º ano do Curso Técnico Auxiliar de Saúde

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  9. Não imaginava que existia uma semente tão extraordinária.

    Aluna do 10.º ano do Curso Técnico Auxiliar de Saúde.

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